Não existe uma solução para o Brasil. Isto não é pessimismo, é uma constatação. Não existe uma solução para o Brasil, como não existe uma solução para o ser humano. Não há fórmulas mágicas para resolver os problemas da humanidade; há apenas seres, animais aparentemente racionais, submetidos à dualidade fé versus razão, amor versus ódio, entreguismo versus superação, religião versus ciência. E o País é palco aonde se desenrola essa dinâminca humana, de contradição e repetição de antigas contradições - um ciclo que vincula toda realidade humana.
Não é justo dizer que o Brasil é uma "nação" atrasada. Primeiro, porque neste País existem diversas nações, formando um conjunto de pessoas ligadas por diversos (e, algumas vezes divergentes) traços culturais, sendo a língua e uma injustificada paixão pelo futebol as mais explícitas. Segundo, porque não existe atraso nenhum. O caminho que aqui se vive segue seu ritmo próprio e particular; ainda há muita História a se viver neste País "inventado", colonizado para fins de exploração, de extensão continental e com 500 e poucos anos de idade, no qual nada foi construído através da revolta popular pois, pelo contrário, as "inovações e melhorias" são tradicionalmente concedidas à população "dócil e simpática" (Vaz de Caminha) que aqui habita.
A lusofonia garantiu a integridade do território - isso lá é bem verdade; a língua também foi uma concessão, vez que jesuítas aplicaram a catequese por meio da "língua boa" ou Nheengatu; os bandeirantes avançaram para "além de Tordesilhas", levando consigo o "língua geral paulista"; só com a chegada em massa de colonos portugueses é que se pode falar num "interesse" em instituir o português como idioma oficial. A identidade deste povo é concedida, ou seja, não-afirmada. Todas as vezes que o povo brasileiro tentou se afirmar enquanto nação, foi duramente castigado e rapidamente dominado pelo Estado: Canudos, Farroupilha, Cangaço, Inconfidência Mineira, Guerra do Contestado e etcetera. Tem-se, aqui, um caldeirão de etnias, tradições, credos (religiões) que alguns positivistas consideraram por bem submeter a um rótulo identificador "nação". Dentro do Brasil existem nações milenares, locais: os silvícolas; são os verdadeiros brasileiros, cá vieram sabe-se lá como (pelo estreito de Bering, provavelmente) e já foram vítimas diretas de vários processos de genocídio - levados a cabo pelos ideários civilizacionistas da cultura Ocidental. Os "índios" (atribuição equivocada ab initio) não eram bons nem maus; foram objeto de intervenção (violência) praticada com apoio ideológico da mais variada origem: religiosa, científica, econômica...
O País não está na contra-mão da História. "Ele", a sociedade politicamente organizada neste território está cumprindo seu papel histórico nos rumos que toma o mundo; não há porquê pensar que os países encontram-se isolados, em realidades estanques. O que ocorre é uma interação de forças que atuam na condução, na gestão dos caminhos que todo o "conjunto humanidade" percorre na Terra. Cada "nação" atua num determinado sentido, na defesa de interesses que cada uma delas entende como "próprios". Este "organismo vivo", como defendem alguns, encontra-se logicamente segregado por questões de ordem prática, pelo que não se pode compreendê-lo corretamente sem entendê-lo como um mecanismo complexo; porque cada uma de suas partes funciona de forma autônoma neste movimento aqui descrito; a resultante destas forças dita a conjuntura de cada país. Assim, não se deve afirmar categoricamente numa pré-determinação - o que seria absurdo -, mas se deve reconhecer que seria impossível deduzir que um Estado com as tais características supra citadas pudesse mudar "da água pro vinho", como num passe de mágica, pelas mãos de um "messias" qualquer - como vem esperando a "nação brasileira" desde os tempos coloniais. E que se leve em consideração, ainda, diversos e sérios agravantes: inexistência de uma política continuada para o desenvolvimento da Educação, inoperância prática das bases políticas e ausência de uma consciência político-ideológica, descomprometimento das classes intermédias com a melhoria de vida de mais de 70 milhões de habitantes - que vivem abaixo da linha da pobreza...
Observe-se, entretanto, que as "nações-modelo" (se é que tal coisa deve ser citada, com o intuito de caráter meramente didático) também enfrentam crises de ética e os mais estranhos tipos de ilícitos - nas esferas pública e privada. Veja-se, em tempo, que os "males da humanidade" não são invenções latino-americanas - muito pelo contrário! As misérias deste mundo são muitas vezes "criações das mentes do Norte" e seus planos para a implantação do "Império Ocidental"; os baluartes da lógica e da razão, que tantas vezes foram os maiores responsáveis pelos maiores crimes da história da vida humana no Planeta. Se hoje pode-se afirmar que os europeus e norte-americanos têm um elevado índice de desenvolvimento social e humano - aqui, permitindo-se uma generalização que desconsidera os desvios que são facilmente detectados nas minorias étnicas (imigrantes) pobres -, esse fato se dá porque esses povos perceberam o papel que deveriam desempenhar na História - e partiram, lamentavelmente, para a exploração econômica e opressão dos povos mais fracos e menos desenvolvidos. A guerra e a irracionalidade são características humanas; os desejos e ambições humanas muitas vezes só podem ser freadas pelas regras da Moral, pelas regras do Direito, ou seja, por valorações humanas que determinam condutas. Não se pode admitir uma universalização da experiência humana que não reconheça as peculiariedades da espécie e das diversas sociedades que se formaram nestes 100.000 e poucos anos de proto-História e História.
A realidade brasílica é uma atividade da Lógica. Outro destino não se poderia esperar, tendo em vista a análise crítica dos fatos. Seria impossível determinar o que seria desta sociedade se todos os "ses" tivessem se concretizados. Se a colonização tivesse sido de povoamento. Se o clima (enfim...) aqui fosse outro (o modo de produção de riquezas também o seria?). Se o País fosse realmente independente e soberano. Se os governantes tratassem a res pública como coisa pública...
Afinal, qual é a solução para o Brasil? Nenhuma. E todas ao mesmo tempo.
3 comentários:
Atrevidamente, acesso seu blog e digo, de cara, que deve existir alguma solução pro nosso país, sim. Talvez pra conduta de seus "administradores" é que não. Sem reduzir a questão às ordens de sentido, não sei também por que, mas acredito em algo positivo nosso.
Sua visão foi ampla e apoiada em fatos históricos e econômicos (como sempre são) e realmente é difícil encontrar vantagens brasileiras em qualquer situação mudial. Nós somos de terceira linha mesmo, dependentes e impossibilitados de melhor usufruir da nossa produção - que é rica - justamente por essa posição de ralé. Fomos explorados (eu sempre achei o melhor termo nas aulas de História pra identificar nossa colonização. Olhaí, co-lo-ni-zar Urgh!) e vendidos e o que era nosso, extinto progressivamente. Triste.
Mas aí vc fala de ciclo e me remete a idéias bacanas. Ser circular é não ter fim nem começo, é praticamente só estar. Exatamente o que o brasileiro nato é. O assalariado, o desempregado e a mulher que anda de ônibus com o filho no colo. Eles só estão. E eles são majoritariamente o Brasil. Nada de Estado, mas de ser, composição. A vida no país é essa e o pior (ou melhor) é que não existem preocupações. O brasileiro vai trabalhar de bicicleta (porque a passagem é cara)sem saber o que é o mensalão.
Talvez, ou até certamente, eu tenha enveredado aqui pra outro viés menos jurídico ou doutrinário, foi outra forma de visão. Observando "de fora", eu não sou nada otimista também, só que olhar o país "de dentro" o aproxima de uma nação e me faz achar que há alguma solução, ainda que seja o estar no ciclo. É a saída diária pra dor da indignação. Pode ser meio covardia fechar os olhos pro perigo eminente, mas é aquela questão de sobrevivência, né?
Ju (se é que me permite a abreviação que te retira o "Hits"),
eu tenho plena consciência da criativida brasileira. O que me preocupa é ver esta criatividade sempre direcionada para coisas ou vãs, ou banais, ou desonestas. Não tenho nenhuma visão romântica sobre a postura dos mais humildes; sei que deles virá, um dia, a mudança - tardia, claro. Sei que a revolução deve ser pacífica, para não castigar exatamente os mais humildes (que sempre foram bucha de canhão). Essa é uma revolução nos costumes e sei qual o papel da palavra escrita neste iter.
No meu caminho (porque estou bastante consciente da minha responsabilidade), a única coisa que estou conseguindo fazer é soltar essas idéias por aí e por acolá, para ver quantos "loucos" coloco ao meu lado e quantos sábios se levantam contra minhas idéias. Mais, não posso.
Converso com todos quantos posso - do iletrado ao "doutô"; o desânimo é geral, mas a comodidade e a estupidez são pontuais... - como disse um querido novo amigo, a verdade pode estar nas entrelinhas, mas pode ser que não.
O Brasil nasceu sendo explorado e continua até hoje. Isso não vai mudar.
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