Depois de me questionar e elaborar um texto acerca da existência da moral neste fim de semana, não encontrei muita disposição para falar do problema vivido pelas populações libanesas, palestinas e judaicas, diante dos atuais conflitos no Oriente Médio. Mas, já num último esforço antes de encerrar minhas atividades de final de semana prolongado, como o leitor atento já pode perceber, solidarizo-me às vítimas indefesas do conflito, assumindo a posição de que os principais implicados e prejudicados são as camadas populacionais humildes que, ou são as vítimas diretas da violência, ou são os meios físicos (militares) armados à disposição dos governantes e ideólogos para a movimentação da máquina de guerra/guerrilha.
Em 1948, Blair já havia feito esta constatação, quando escreveu que "[a] guerra é travada pelos grupos dominantes contra seus próprios súditos, e o seu objetivo não é conquistar territórios nem impedir que outros o façam, porém manter intacta a estrutura da sociedade." (Eric Arthur Blair, sob o pseudônimo de George Orwell, em Nighteen eighty-four). Seria certa tal afirmativa? Seria a guerra a forma pela qual a economia das nações encontra uma das formas de contornar suas dificuldades momentâneas? Afinal, a quem interessa a guerra? Ora, é bem sabido que existe uma distância enorme entre o proprietário que fabrica o míssel/arma e aquele que a dispara ou morre em função do disparo. Ainda, reforço meus comentários com a ajuda involuntária de Sartre: "Quando os ricos fazem a guerra, são sempre os pobres que morrem" (Jean-Paul Sartre). Levar o conflito aos braços de uma divergência teológica foi um golpe baixo, porque polarizou e deixou o mundo pré-globalizado diante de um dilema: valores morais absolutos ou relativos? Predominância, por via da força militar, da cultura judaico-cristã, ou tolerância pelas sociedades seculares, fundadas em preceitos aproximados e semelhantes, mas de nenhuma maneira iguais? Esses questionamentos não podem ser feitos a qualquer despreparado intelectualmente com vocação para cowboy texano, porque a resposta poderá ser um desastre.Além de lastimar que, mesmo após a composição internacional do conflito na ONU, critico o fato de que tanto sofrimento seja repetidamente causado em função da manutenção do território e de uma estrutura de poder teocrático. Na realidade, é estranho observar como é tradicional que as nações daquela região preservem o poder pela via religiosa, rivalizando com os povos vizinhos em função de diferenças dogmáticas que, necessariamente, mantêm ligações com a própria cultura milenar daquela gente. Afinal, não são ambos monoteístas, deterministas, fatalistas e dualistas? O caminho para a construção do sagrado, por via dos sacerdotes, é que é diferenciado, estruturando, logicamente, em diferenças na sociedade que daí se origina - num processo dinâmico e sucessivo: causa/efeito/causa-transformada/efeito.
Neste mês de agosto (2006), parece clara a intenção de Israel em fazer recuar as forças do Hezbollah para longe das fronteiras com o país. Na realidade, com a possibilidade cada vez maior de uma nova "missão pela paz" dos EUA no Oriente Médio - desta vez, atacando o Irã, nova ameaça à paz mundial (sic) -, a ação israelense é muito útil, pois estabelece uma zona de segurança na região, ocupada por capacetes azuis da ONU, evitando a formação de dois fronts contra as "forças democráticas da paz" (que estarão muito ocupadas salvando o mundo... da escassez de petróleo).
Nenhum comentário:
Postar um comentário