Criticar o Dia Internacional da Mulher é uma espécie de “batata quente” -- difícil de ser analisado, por falta de legitimidade de gênero. Embora exista uma razão histórica para o “evento” e ainda haja um conjunto de explicações à manutenção do habitus, existe um apanhado de questões que se colocam contra esta praxis social.
Contudo, antes de elaborar e discutir uma série de razões contrárias à comemoração do “afamado dia”, penso que a questão inicial é a da objetivação da mulher. Transformada em objeto, a mulher deixa de ser ator de transformação e passa a coisa manipulável num ambiente controlado, seguindo um processo de esteriotipização/castração. Acontece que esse processo a coloca numa posição subalterna, da mesma forma como a natureza na questão ambiental, ou dos trabalhadores e trabalhadoras na questão laboral: sempre objetos a serem preservados, tutelados, armazenados e etiquetados.
Seguindo essa linha de raciocínio, um dos primeiros efeitos negativos do “Dia” é o de colocar a mulher numa posição subjetivada de inferioridade. É cediço o fato de que existe violência contra a mulher – não sendo necessário estender muito essa narrativa. Também é evidente que a luta contra a discrminação é uma constante – na política, no ambiente de trabalho, na urbe… Mas celebrar um “dia para mulher” é uma dessas espécies de reducionismo características das sociedades ocientais, que tendem a vitimizar e a garantir um espaço de privilégios -- contanto que permanceça a exploração e a submissão da mulher em relação ao homem.
Além do mais, existe um outro motivo contra o “Dia” da mulher; é uma questão simbólica, descoberta mediante a formulação de uma simples pergunta: por que não há o “Dia Internacional do Homem”? Por que o sexo oposto também não possui um dia a ser celebrado? A resposta para isso é tão cínica como verdadeira: ainda vivemos num mundo aonde o sexo masculino predomina socialmente. Por isso não há a necessidade de um “Dia” para os homens. Reconhecer essa situação é tomar conciência do processo descrito no parágrafo anterior, sendo mesmo desconcertante ter que dizer que a luta feminista ainda dá os primeiros passos na consecução de um objetivo mais amplo a ser conquistado: o fim do poder masculino e o começo de um poder paritário.
Portanto, é preciso dizer um grande e ensurdecedor “NÃO” ao Dia Internacional da Mulher, pela constante re-afirmação de um novo século de paridade de poderes entre homens e mulheres. Esse é um dos caminhos a serem percorridos na construção de sociedades aonde não haja mais espaço a discriminações mas, pelo contrário, de reconhecimento de totalidades, fora da lógica maniqueísta da “grande sociedade contemporânea ocidental”.
Um comentário:
Pior que o paradoxo da data em sí, é saber que, gradativamente, esta data que tem tudo para ser um marco de protestos, periga virar mais um evento comercial, bem ao estilo ocidental-capitalista.
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