Qual é a ligação entre entretenimento e política? A resposta é óbvia: tudo. Desde a expansão romana que a máxima "pão e circo" alerta para a profunda ligação entre esses dois construtos sociais. Assim, pode-se afirmar que essas duas formas de expressão criativa do homem têm laços profundos na cultura e, mais explicitamente, na Sociedade de massas.
O entretenimento serve à política, e vice-versa, vez que dela colhe substrato para dramas - da tragédia à comédia. E nisso não há grande espanto. O que causa arrepio é observar o quanto essa interação é perigosa, quando observa-se um largo espectro da vida em Sociedade, e se insere a componente Economia nesta equação.
O fato é que, no atual estágio de expansão global do neocapitalismo, para que o sistema financeiro internacional possa transferir investimentos massivos das economias do Norte Global à periferia do sistema, qual seja, o Sul Global, o entretenimento tem funcionado como condição sine qua non: entretenimento e, quando ineficaz ou incompleto, auxiliado pelo controle presente na violência estatal organizada.
Por exemplo: o crescente desemprego nas economias fortemente desenvolvidas traz, necessariamente, descontentamento e diminuição da qualidade de vid das populações. Nesse contexto, pode-se afirmar que existem dois fatores principais para o desemprego: 1) a produção agropecuária e industrial está quase que completamente automatizada e 2) a produção de bens que exigem menos tecnologia foi deslocada para os países periféricos do sistema (aonde a mão-de-obra é mais barata e há menos custos de produção). Então, como conter uma população descontente, sem perspectivas de melhora em sua qualidade de vida? Dentre as várias opções políticas, a mais barata é o entretenimento.
Diante disso, a tecnologia vem prestar um enorme serviço ao atual modelo de produção neoliberal: existem vários mundos e realidades paralelas, aonde os descontentes podem encontrar algum conforto; a fantasia toma o lugar da realidade, re-interpretando-a. Daí o sucesso de bilheteria dos Matrix, Senhor dos Anéis, Hellboy e assim por diante.
Mais não era preciso ir muito longe para chegar a essas conclusões. Bastava ficar pelo exemplo brasileiro - das tele-novelas que acalentam as noites da população faminta e mal paga, que troca a luta por um futuro melhor por um bálsamo de diversão empacotado.
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