terça-feira, setembro 04, 2007

O que muda na China, a partir de Outubro

A República Popular da China aprovou recentemente uma lei que dá o direito à propriedade privada. Isso significa que o gigante asiático deu o passo final para uma mudança de Capitalismo de Estado para Capitalismo de mercado. Mas, o que muda na China, a partir de Outubro (2007)?

Temos que ter em mente que a crise econômica nos E.U.A. tem suas raízes no que se pode chamar de "crédito de habitação" - que é uma linha de empréstimos aos privados para que possam investir em bens imóveis. O mercado imobiliário norte-americano é um dos carros-chefe do mercado de capitais, vez que o setor de construção civil movimenta uma larga parcela dos créditos das bolsas de valores de Chicago e Nova Iorque. Uma queda nos valores das ações dessas empreiteiras significou o abalo da economia norte-americana, que gerou ligeiras quedas nas bolsas de valores ao redor do globo - principalmente na Europa.


Entretanto, a China deu uma resposta inteligente para que seu crescimento de 11% do PIB não fosse afetado nesta rodada financeira de 2007: legalizou a propriedade privada em seu território - ao lado das propriedades coletiva e estatal. Essa foi uma jogada de mestre, que beneficiou as elites burguesas e preparou o território para a expansão e acumulação do capital naquele país. Os enganaram-se os pensadores que vinham imaginando um sistema de economia de mercado misto socialismo-capitalismo, com a devolução dos territórios de Hong Kong pelos britânicos (1997) e Macau pelos portugueses (1999). Primeiro porque não existe uma verdadeira experiência socialista na China, senão um regime totalitário de base político-filosófica confuncionista (sistema organicista família=sociedade=Estado; tutela disciplinar da Educação; controle da liberdade de expressão equiparada à omissão participativa e etc.).

Quando se costuma falar em Confúncio, logo alguém pensa num "guru" ou "líder religioso"; ledo engano. K'ong-tzeu era um homem letrado e em suas veias corria sangue aristocrático (embora não fosse filho de uma mãe aristocrata). Este indivíduo lançou as bases da filosofia política chinesa (coletivismo organicista e Estado forte e centralizado), que se difundiu profundamente na cultura de seu povo. Os chineses são ótimos negociantes; têm uma percepção do tempo alongada; são pacientes e disciplinados. E isso se reflete na força do partido único que lá existe. Vêm investindo pesadamente no militarismo; chegaram a gastar em 2006 19% do PIB com a modernização de seu exército. O Estado garante um crescimento econômico estonteante, reproduz a miséria e exerce um controle total na política, quer dizer, a sociedade civil não participa democraticamente nas decisões governamentais. É, portanto, o perfeito ambiente para o desenvolvimento do capitalismo globalizado: a repressão dos trabalhadores é imensa e a corrupção e o crime organizado controlam as relações laborais; a economia é controlada pelo Estado e o Estado é controlado por uma minoria (precisa dizer mais alguma coisa?); tem uma prática imperialista com seus vizinhos regionais (ex.: Taiwan, Tibet etc.) e assim por diante.

Portanto, o que muda na China: nada. Depois de ter garantido o desenvolvimento das infra-estruturas industriais necessárias ao fortalecimento da produção capitalista, este país vai continuar a sua expansão regional até que comece a prejudicar a pauta de exportações e o mercado financeiro japoneses (a "rinha" entre os dois países asiáticos sempre foi comercial). Se o crescimento chinês puser em causa a hegemonia dos japoneses na Ásia, o Japão terá sempre duas opções: investir capital na China ou ...
Detalhe na foto: Ferrari Testarossa em frente ao Comitê do Partido Comunista em Pequin.

Nenhum comentário: