Nas últimas semanas, tenho dado uma maior atenção à semiótica e às estruturas de enculturação social. Da minha análise, que ainda é superficial, ressalta a (pré)conclusão de que existe uma certa coerência entre os autores que cuidam do assunto, quando afirmam que os processos de enculturação são bastante úteis à manutenção dos sistemas sociais e econômicos; os resultados da observação variam de acordo com o agrupamento humano observado, como é evidente.
No mundo ocidental existem várias formas de execução deste proceso de enculturação: religião, mídia, sistema produção, sistema de ensino e assim por diante. Se pegarmos a mídia e o entretenimento, podemos constatar que a constante propaganda de consumo (consumo de entretenimento, ou de cultura, ou de bens materiais, ou do que quer que seja) garante um nível de docilidade que torna possível a execução de estratégias de controle social muito eficientes. Neste aspecto, consumo, propaganda e democracia podem trabalhar em conjunto para manter o status quo e garantir a arregimentação de uma população em conformidade com os objetivos da minoria que controla os sistemas de informação/enculturação. Senão, vejamos:
No mundo ocidental existem várias formas de execução deste proceso de enculturação: religião, mídia, sistema produção, sistema de ensino e assim por diante. Se pegarmos a mídia e o entretenimento, podemos constatar que a constante propaganda de consumo (consumo de entretenimento, ou de cultura, ou de bens materiais, ou do que quer que seja) garante um nível de docilidade que torna possível a execução de estratégias de controle social muito eficientes. Neste aspecto, consumo, propaganda e democracia podem trabalhar em conjunto para manter o status quo e garantir a arregimentação de uma população em conformidade com os objetivos da minoria que controla os sistemas de informação/enculturação. Senão, vejamos:
- Observando a democracia
- A democracia contextualizada pela cultura
De outro lado, vale dizer que a participação política, se recebe sua sentença de morte processo educacional (ideologicamente capitalista e liberal), sofre o golpe fatal quando é substituída pela atividade de consumo de bens/serviços (neste sentido: Noam Chomsky, "Understanding power"; Michel Foucault, "Naissance de la biopolitique: cours au Collège de France"). O consumo é essencial ferramenta de manutenção do status quo, porque desvia nossa atenção para a relação consumidor-produtor (ao invés de cidadão-cidadão, por exemplo). Nesta relação de consumo, o dinheiro serve como intermediário simbólico nas relações intersubjetivas (neste sentido: Karl Marx, "Capital", livro I).
O carnaval (fenômeno de escala nacional) já é uma válvula de escape aos horrores da miséria e representa um meio legítimo de manifestação de insubordinação social (que se expressa no desmantelamento momentâneo da maioria de regras morais, dado pela euforia alcoólica). Destraídos dos problemas diários, embrigados ou apenas levados pela agitação, os foleões se esquecem do Estado (ao menos que seja necessária ou imposta a presença do Estado-polícia). O que o exame das alterações legislativas no panorama histórico da democracia brasilira revela é que a legislatura proposta e aprovada em períodos festivos é majoritariamente contrária aos interesses da maioria dos cidadãos.
Sem encerrar o assunto, coloco a seguinte afirmação (com certa tranquilidade): o Brasil vem (re)produzindo uma população politicamente dócil. Os mecanismos de manipulação da opinião pública nacional estão sob o julgo de grandes corporações (por exemplo, a empresa brasileira Globo S/A está entre os 10 maiores conglomerados de comunicação social do mundo). Ao contrário do que se possa pensar, a comunicação social brasileira é forte, bem estruturada e tem bem servido aos interesses políticos da ideologia dominante. Ainda, o jornalismo tem uma agenda bem definida e já criou uma demanda de consumo baseada no escândalo e no imediatismo. Inclusive, diga-se que o jornalismo sensacionalista que acompanha a montanha russa dos assuntos políticos brasileiros não fornece os mecanismos necessários à conscientização da massa e ajuda a formação de uma população sem memória.
A cidadania não se faz sentir nos locais aonde o poder de intervenção e controle sociais são mais fortes: contrariamente, a cidadania se reflete nas atitudes que devem ser tomadas no cotidiano, longe dos olhos do Estado. A cidadania está ligada à idéia de democracia, e é a extensão do Poder social; pertence ao povo. Culturalmente, nas regiões mais pobres e onde há uma propositada má-condução do ensino, e socialmente, aonde o poder é exercido por meio da brutalidade (coação), a cidadania adormece, entra em estado de coma e morre.